Zeis Muribeca vem sofrendo pela especulação imobiliária e degradação ambiental
A Comissão de Cidadania, Direitos Humanos e Participação Popular (CCDHPP) realizou uma Audiência Pública para debater os constantes conflitos territoriais e ambientais em Muribeca no município de Jaboatão dos Guararapes. Ainda que seja uma ZEIS (Zona Especial de Interesse Social), a localidade vem sofrendo com assédios da especulação imobiliária, impactos das mudanças climáticas, falta de saneamento básico adequado e degradação ambiental por empresas privadas.
Os territórios de Muribeca são disputados a décadas. Prova disso é a dizimação do Conjunto Habitacional do distrito. Construído em 1982, abrigava centenas de famílias ao longo de 69 blocos, cada um com 32 apartamentos. Em 1995, problemas estruturais nas moradias foram verificados pela Defesa Civil, iniciando uma jornada de mais de 20 anos de processos jurídicos e interesses econômicos até o despejo dos moradores e a demolição dos prédios.
A proposição da Audiência foi do deputado estadual João Paulo (PT) e contou com a presidência da deputada estadual Dani Portela. Marcaram presença parlamentares da Alepe, representantes de órgãos públicos e movimentos da sociedade civil como o “Somos Todos Muribeca”.
Na tribuna, a presidenta da CCDHPP, Dani Portela destacou que os conflitos em Muribeca refletem desigualdades existentes em Pernambuco. “Esse é um assunto que toca diretamente às vidas dos moradores e revela uma situação de injustiça social. Muribeca é marcada por uma história de luta, resistência e enfrenta a muito tempo desafios que afetam os moradores, em sua maioria, pessoas de baixa renda, mais empobrecidas e negras. Grupos que ao longo do processo histórico foram vulnerabilizados socialmente. Esses grupos formam a maior parte da população, mas o poder público ainda trata como minoria”, criticou.
“Muribeca tem sido uma zona de sacrifício, onde o poder econômico tem sido sobreposto à condição de vida das pessoas. Comunidades e cidades sustentáveis devem ser prioridade de todas as gestões”, contribuiu Lorena, representante do Cendhec.
“Cheguei em Muribeca e era um paraíso. Passamos a ter esses problemas de uns dez anos para cá. Nosso povo vem sofrendo muito por causa disso, as pessoas vivem com ansiedade. Peço que o Poder Público trabalhe para resolver nossos problemas”, denunciou Dior, morador de Muribeca.
Os encaminhamentos da Audiência Pública reuniram queixas e proposições apresentadas, como a realização de escuta aos moradores, reuniões com os órgãos públicos, elaboração de um plano de ação e contingência para o período de chuvas, retomada do Comitê da Bacia do Rio Jaboatão para acompanhamento das obras, além de sugestões de políticas de saneamento, drenagem e responsabilidade ambiental endereçadas à Prefeitura de Jaboatão.