Escuta aconteceu durante reunião da Comissão de Educação e Cultura da Alepe e detalhou falta de inclusão e desafios enfrentados para o acesso adequado ao ensino
A Comissão de Educação e Cultura da Alepe, desta quarta-feira (10), recebeu representantes das mães de crianças neuroatípicas que dependem da rede municipal de ensino de Olinda para uma escuta. Na reunião, denúncias que deflagram despreparo e falta de inclusão pela gestão municipal estruturam as falas. O momento foi presidido pelo deputado João Paulo (PT), com suporte da deputada Dani Portela.
As mães explicaram um cenário de esgotamento das tentativas de buscar auxílio com a Secretária de Educação e Prefeitura de Olinda. Dentre as queixas apresentadas, a principal foi a falta de profissionais mediadores de classe, responsáveis pelo acompanhamento especializado das crianças que fazem parte do espectro autista nas turmas. Essa função, como contaram as mães, é desempenhada por estagiários de psicologia ou pedagogia. Os relatos revelam que por isso as crianças foram impedidas de iniciar o ano letivo.
“Percebemos que não é só a questão do mediador que está faltando na sala de aula. A devolutiva que a Secretaria de Educação nos deu é que não tem mão de obra para ser contratada. A gente rebate isso quando vemos os municípios de Recife e Paulista que tem bolsas de estágios atrativas e Olinda com uma bolsa de estágio de R$650, ainda atrasando. Eles precisam melhorar essa oferta para que possamos ter estagiários comprometidos e capacitados para dar esse suporte aos nossos filhos”, denunciou uma das mães.
Somam-se a esta queixa, o desvio de funções dos estagiários, alguns deles assumindo papel de professor nas turmas ou ficando responsável por muitas crianças neuroatípicas numa só turma; salas de recursos psicopedagógicos que não funcionam; mães que precisam suprir o papel dos acompanhantes nas escolas; não entrega do Plano Educacional Individual, mecanismo importante para a previsão das atividades específicas a serem desenvolvidas com os alunos do espectro; dificuldade nos transportes e ausência de equipamentos de suporte.
As instituições mencionadas foram a Escola Municipal Isaac Pereira da Silva e a Escola de Tempo Integral Sagrado Coração de Jesus. “Vivo num município que se omite há anos. Meu filho frequentou a escola este ano somente sete vezes, por cinquenta minutos numa sala de recursos. Desde então estou pleiteando esse acompanhamento para ele que nunca chega. E quando chegou, o que a professora dessa sala me passou foi que estavam priorizando as crianças que já tinham adaptação na escola. Por meu filho ser um adolescente, não verbal, de grau três de suporte, eles julgam que ele não merece frequentar esses espaços. Para eles é mais fácil deixar meu filho em casa”, relatou a segunda mãe na escuta.
“Isso é uma questão de responsabilidade coletiva. A educação é um direito de todos. É irônico falar em educação inclusiva quando há dificuldade de ingresso e da permanência. Tenho um enteado que está dentro do espectro. Passamos dificuldades em escola privada. Ele era colocado numa sala, davam brinquedo ou livro para que ele não atrapalhasse. Isso não é incluir. Ele estava no mesmo espaço mas não estava sendo incluído. Foi dado o direito de estar mas não de ter acesso às mesmas condições que os demais alunos. É toda uma questão que atravessa a luta pela inclusão na escola e para além dos muros das escolas”, contribuiu a deputada Dani Portela.
Os encaminhamentos da reunião estipularam a realização de uma audiência pública na Alepe e a solicitação de um pedido de informação à prefeitura de Olinda sobre as queixas apresentadas.